Com essas palavras
Jesus se dirigiu a Pedro ao confiar-lhe o mandato de governar a Sua
Igreja, deixando claro que a Igreja é “propriedade” Dele. Ele a quis
como o Seu Corpo Místico, constituído como o “Sacramento universal da
salvação da humanidade” (LG, 48), isto é, o meio escolhido por Deus para
salvar a todos. Ela é o prolongamento da Encarnação de
Jesus no meio dos homens, para formar, Nele, a grande família dos
filhos de Deus. A Igreja é a trajetória do Cristo através dos séculos.
Bossuet disse que: “A Igreja é Jesus Cristo derramado e comunicado a
toda a terra”.Tudo pode ser resumido na
palavra de um grande Padre do primeiro século, Santo Inácio de Antioquia
(†110), ao dizer que: “Onde está o Cristo Jesus está a Igreja
Católica”. O Catecismo da Igreja Católica (CIC), afirma que: “A
convocação da Igreja é por assim dizer a reação de Deus ao caos
provocado pelo pecado” (§761). Para Santo Agostinho “ a Igreja é o mundo
reconciliado Ela é a Esposa de Cristo, que ele ama com um amor eterno.
Por ela sofreu a paixão e derramou o seu sangue. “Maridos, amai as
vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para
santificá-la, purificando-a pela água do batismo, para apresentá-la a si
mesmo toda glorificada, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro
defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27).
O Papa Paulo VI, cujo amor à Igreja era
imenso, assim se referiu a ela: “A Igreja! Ela é nosso amor constante,
nossa solicitude primordial, nosso pensamento fixo! … Não se ama a
Cristo se não se ama a Igreja; e não amamos a Igreja se não a amamos
como a amou o Senhor: “Amou a Igreja e por ela se entregou” (Ef 5,25)”.O
Concílio Vaticano II a chamou de “Lumen Gentium”, isto é “Luz das
Nações”, pois a sua Luz é a mesma Luz de Cristo. “Assim [Deus]
estabeleceu congregar na Santa Igreja os que crêem em Cristo… será
gloriosamente consumada quando, segundo se lê nos Santos Padres, todos
os justos desde Adão, “do justo Abel ao último eleito”, serão
congregados junto ao Pai na Igreja universal” (LG , 2).
É preciso termos bem claro que Deus
decidiu estabelecer o seu Reino entre nós, através da Igreja. Ensina-nos
a “Lumen Gentium” que a Igreja tem “a missão de anunciar e estabelecer
em todas as gentes o Reino de Cristo e de Deus, e constitui ela própria
na terra o germe e o início deste Reino” (LG ,5). Sem a Igreja não há,
portanto, Reino de Deus. Santo Agostinho escreveu que: “A Igreja recebeu
as chaves do Reino dos Céus para que se opere nela a remissão dos
pecados pelo sangue de Cristo e pela ação do Espírito Santo. É nesta
Igreja que a alma revive, ela que estava morta pelos pecados”.
O Catecismo diz que ela é: “Um
projeto nascido no coração do Pai” (nº 759), “Prefigurada desde a origem
do mundo”(nº 760), “Preparada na Antiga Aliança” (nº761), “Instituída
por Jesus Cristo”(nº 763), “Manifestada pelo Espírito Santo” (nº 767),
“A ser consumada na glória” (nº769), “Mistério da união dos homens com
Deus” (nº772), “Sacramento universal da salvação” (nº774), “Comunhão com
Jesus” (nº787), “Corpo de Cristo” (nº787), “Esposa de Cristo” (nº796),
“Templo do Espírito Santo” (nº797), “Povo de Deus” (nº781).
Alguns perguntam: Por que a Igreja? Não
basta a fé em Jesus Cristo? A resposta é, que foi o próprio Jesus quem
quis a Igreja como prolongamento de sua presença salvadora no meio dos
homens. Ele nos deu a Igreja e o seu Credo, como garantia de que não
estamos seguindo apenas o nosso bom senso, ou uma religiosidade amorfa,
mas estamos seguindo o caminho de Deus.
Muitos querem hoje dizer Sim à Cristo, e Não à
Igreja; mas isto afeta a própria identidade do Cristianismo. A Igreja,
instituída por vontade de Cristo, com suas normas, como prolongamento da
Encarnação do Verbo de Deus, se tornou o lugar privilegiado do encontro
dos homens com Cristo e com o Pai. O Pai enviou Jesus para a salvação
do mundo, e Cristo enviou a Igreja. “Assim como o Pai me enviou, eu vos
envio a vós…” (Jo 20,22)
Muitos hoje querem a Igreja na forma de
uma “democracia moderna”, onde tudo se decida pela vontade da maioria.
Ela seria então como um grande Clube religioso, de normas “flexíveis”,
mais assimiláveis. A consequência disso – e o grande engano – é que
neste caso o homem seria guiado unicamente por si mesmo, e não por Deus.
Não seria mais “a Igreja de Deus” (1Tm3,15). Pelo fato da Igreja ter a
sua vida guiada pela Tradição que vem de Cristo e dos Apóstolos, dá-nos a
garantia de que é o próprio Jesus, presente nela, que a conduz.
Num Cristianismo sem a Igreja instituída
por Cristo (Mt 16,16s) sobre Pedro e os Apóstolos, o próprio Cristo
ficaria mutilado, como que degolado… Os textos bíblicos, com referência à
função de Pedro e dos Apóstolos, deixam claro que Jesus quis uma Igreja
estruturada e jurídica, sob o pastoreio supremo de Pedro, e não como
querem os protestantes, apenas uma comunidade espiritual reunida só pela
fé e pelo amor. Como ensina o Catecismo, ela é: “ao mesmo tempo
visível e espiritual”(nº770), e afirma que: “O Senhor Jesus dotou a Sua
comunidade de uma estrutura que permanecerá até a plena consumação do
Reino”(nº761).
Jesus tinha consciência de que a Sua
Igreja teria uma longa duração sobre a face da terra até cumprir a
missão de trazer para Deus toda a humanidade. As parábolas sobre a
Igreja mostram isso. A do joio e do trigo (Mt 13,1-30) nos mostra que os
bons e os pecadores vão conviver na Igreja, juntos, até o fim do mundo.
Jesus, ao explicar a parábola para os discípulos, diz-lhes que: Ainda
as parábolas do banquete (Mt 8,19s) e do fermento na massa (Mt 13,33s),
indicam que a Igreja teria uma longa e paciente missão a cumprir, até a
plena consumação do Reino.
A Igreja não é portanto, apenas uma
“Sociedade dos Amigos de Jesus e do Evangelho”, é muito mais do que
isso, é uma Instituição criada pelo próprio Jesus, integrada Nele, o Seu
próprio Corpo, para desta forma ser o seu prolongamento na história dos
homens, reunindo-os Nele, para trazê-los de volta para a Casa do Pai.
Por tudo isso, os cristãos dos primeiros tempos não tinham dúvidas em
afirmar que: “O mundo foi criado em vista da Igreja”. São Clemente de
Alexandria (†215), por exemplo, dizia: “Assim como a vontade de Deus é
um ato e se chama mundo, assim também sua intenção é a salvação dos
homens, e se chama Igreja”(§760).
Esta é a Santa Igreja do Pai, do Filho, e
do Espírito Santo, que São Paulo gosta de chamar de “a Igreja de Deus”
(1Tm3,15; At 20,28). Muitos e muitos filhos dessa querida Mãe souberam
ser-lhe fiel até o fim. Em 1988, Monsenhor Ignatius Ong Pin-Mei, Bispo
de Shangai, no dia seguinte de sua libertação, depois de passar 30
longos anos nas prisões da China, por amor a Cristo e fidelidade à
Igreja Católica, declarou: “Eu fiquei fiel à Igreja Católica Romana.
Trinta anos de prisão não me mudaram. Eu guardei a fé. Eu estou pronto
amanhã a voltar novamente à prisão para defender minha fé”.
Igualmente o Cardeal da Tchecoslováquia,
Frantisek Tomasek, arcebispo de Praga, no ano de 1985, nos tempos
difíceis da perseguição comunista, perguntado por um repórter:
“Eminência, não está cansado de combater sem êxito?”, respondeu: “Digo
sempre uma coisa: quem trabalha pelo Reino de Deus faz muito; quem reza,
faz mais; quem sofre, faz tudo. Este tudo é exatamente o pouco que se
faz entre nós na Tchecoslováquia”(IL Sabato 8,14/06/85, p.11),(PR,n.
284, jan86). É bom recordar aqui que, alguns anos depois, em 1989, o
comunismo começava a desmoronar em toda a Cortina de Ferro…
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